imprimir página

A Espantosa Realidade Das Coisas. / La Espantosa Realidad De Las Cosas. Alberto Caeiro. Pessoa



Alberto Caeiro

A espantosa realidade das coisas

A espantosa realidade das coisas

É a minha descoberta de todos os dias.

Cada coisa é o que é,

E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,

E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.

Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.

Cada poema meu diz isto,

E todos os meus poemas são diferentes,

Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.

Não me ponho a pensar se ela sente.

Não me perco a chamar-lhe minha irmã.

Mas gosto dela por ela ser uma pedra,

Gosto dela porque ela não sente nada,

Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,

E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;

Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,

Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;

Porque o penso sem pensamentos,

Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,

E eu admirei-me, porque não julgava

Que se me pudesse chamar qualquer coisa.

Eu nem sequer sou poeta: vejo.

Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:

O valor está ali, nos meus versos.

Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.



Traduccion - adaptación


La espantosa realidad de las cosas

Es mi descubrimiento de todos los días. 

Cada cosa es lo que es. 

Y es dificil explicar a alguien cuanto eso me alegra,

Y cuanto eso me basta. 



Basta existir para estar completo.



He escrito bastantes poemas. 

Escribiré muchos más, naturalmente.

Cada uno de mis poemas dice esto, 

Y todos mis poemas son diferentes, 

Porque cada cosa que existe es una manera de decir esto.


A veces me pongo a mirar a una piedra.

No me pongo a pensar si ella siente. 

No me pierdo en llamarla mi hermana.

Mas disfruto  de ella, por ser ella una piedra,

Disfruto de ella porque ella no siente nada

Disfruto de ella porque ella no tiene ningun parentesco conmigo. 


Otras veces oigo pasar el viento ,

Y pienso que tan solo para oir pasar el viento,vale la pena haber nacido .


No se lo que es, ni lo que pensaran otros a leer esto;

Pero creo que esto debe estar bien, porque lo pienso sin esfuerzo. 

Ni idea si otras personas me escuchan pensar:

Porque lo pienso sin pensamientos ,

Porque lo digo como mis palabras lo dicen. 


Una vez me llamaron poeta materialista ,

Me sorprendí, porque no juzgaba

Que se me pudiera llamar  cualquier cosa. 

Ni siquiera soy poeta: veo. 

Si lo que escribo tiene valor,no soy yo quien lo tiene:

El valor este ahí,en mis versos. 

Todo eso es absolutamente independiente de mi voluntad.

 








No hay comentarios:

Publicar un comentario